Descobertas sobre a mente do bebê.

O cérebro de um bebê precisa de amor e estímulo para se desenvolver. E é por isso que o primeiro ano explica quase tudo o que somos. É essa constatação que a matéria de capa da edição brasileira de janeiro de 2015 da revista National Geographic busca explicar, mostrando o avanço dessas pesquisas com a utilização de novos equipamentos voltados para a visualização do cérebro infantil, para desvendar como o cérebro da criança se desenvolve em termos de aprendizagem.

No nascimento, o cérebro conta com quase uma centena de bilhões de neurônios e, conforme o bebê cresce e vai sendo estimulado, esses neurônios vão se relacionando, chegando a centenas de trilhões de conexões aos três anos de idade. E quanto mais se usa uma determinada conexão, mais a mielina (material isolante das fibras nervosas) vai se engrossando, fazendo com que os impulsos elétricos passem com mais rapidez. Já aqueles que não são usados com muita frequência acabam sendo cortados. Isso ocorre principalmente entre a fase de um a cinco anos de idade e durante a adolescência.

Veja abaixo o que as pesquisas relatadas na matéria, de autoria de Yudhijit Bhattacharjee, descobriram, ou leia a matéria completa no site da National Geographic:

 

1. Quanto mais o vínculo, maior o QI:

A matéria começa falando sobre o estudo da pesquisadora Hallam Hurt, realizado na Filadélfia e divulgado em 2010. Ela começou estudando recém-nascidos de mães viciadas e como isso afetava o desenvolvimento deles. Ao comparar com as crianças de mães que não usavam drogas, constatou que os bebês de mães viciadas tinham mais propensão a ter QI menor, apesar de se mostrarem fisicamente perfeitos. Continuando o acompanhamento dessas crianças, que viviam em condições de pobreza, fazendo visitas às suas famílias, ela percebeu que as crianças que recebiam em casa mais atenção e cuidados tinham mais probabilidade de ter QI mais alto, apesar de crescerem nas mesmas condições socioeconômicas. Mais do que isso, ela constatou que os estímulos que essas crianças receberam até os quatro anos de idade foram determinantes para o desenvolvimento das dimensões do hipocampo, região do cérebro ligada à memória.

 

2. O bebê já pode reconhecer regras gramaticais:

O experimento da neurocientista cognitiva Judit Gervain, da Universidade Descartes, em Paris, constatou-se que o cérebro do recém-nascido já tem em sua parte neural o que é necessário para aprender a língua desde quando ele nasce. Ou seja, que os bebês já começam a aprender as regras gramaticais desde tenra idade. Em seu estudo, foi realizada a visualização do cérebro do bebê enquanto ele ouvia sequências sonoras. Percebeu-se que as áreas do cérebro encarregadas do processamento da fala e da audição conseguiam distinguir as diferentes sequências.

O desenvolvimento da capacidade linguística dos bebês também foi objeto de estudo da neuropsicóloga Angela Friederici e outros pesquisadores do Instituto Max Planck de Pesquisas Cognitivas e Neurológicas, na Alemanha. Os recém-nascidos de quatro meses eram expostos a frases faladas em línguas pouco familiares construídas de diferentes formas, por exemplo: “o irmão pode cantar” e “a irmã está cantando”. Depois, variações dessas frases eram escutadas pelos bebês, até mesmo com erros gramaticais. Constatou-se que, depois de ouvirem algumas sequencias, os bebês passaram a exibir padrões de atividade neural muito distintos daqueles de quando ouviam as frases incorretas. Isso comprovou que as crianças conseguem entender erros gramaticais já aos dois anos de idade e que durante esse período o vocabulário delas cresce sem parar.

 

3. Estímulo e apego são essenciais para o desenvolvimento integral:

O aumento do vocabulário só é possível com o florescimento de novas conexões entre os neurônios. Mas isso não acontece de forma automática: é preciso estímulo. Em um experimento dos psicólogos infantis Todd Risley e Betty Hart com 42 famílias de todas as classes sociais, eles constataram que as crianças de famílias mais pobres ouviam menos da metade de palavras especificamente dirigidas a elas que as crianças oriundas de famílias mais ricas. Essa diferença de estímulo acabava por afetar os testes de inteligência das crianças, ao redor dos 3 anos, e se refletiam no desempenho escolar, como constatado quando elas tinham por volta dos 9 anos.

Outra pesquisa, da neurocientista Patricia Kuhl, da Universidade de Washington, em Seattle, deu um passo além: não é qualquer estímulo que vale, mas sim o do pai, da mãe, do cuidador. Isso porque, em seu experimento, com bebês de nove meses, ela constatou que havia uma diferença entre expor mais palavras aos bebês por meio de interações humanas ou pela tecnologia (televisão, rádio, celular). Daí a sua hipótese de que o contato social é um portal para o desenvolvimento linguístico, cognitivo e emocional.

O estudo que coroa a ideia da importância do vínculo e dos estímulos foi o desenvolvido com crianças que foram abandonadas em orfanatos ucranianos, onde eram negligenciadas, pelo psiquiatra Charles Zeanah, da Universidade de Tulane, pelo psicólogo do desenvolvimento e neurocientista Nathan Fox, da Universidade de Maryland, e pelo neurocientista Charles Nelson, da Universidade Harvard, nos anos 2000. No começo, eles constataram que o cérebro dessas crianças tinham sinais de atividade mais baixo que os de crianças da mesma idade na população geral, além de outros distúrbios de comportamento.

Com o passar dos anos e ao separar as crianças em dois grupos, um que foi viver em lares adotivos e outro que permaneceu nessas instituições, eles notaram que as que mudaram de ambiente, aos oito anos, conseguiram alcançar o padrão de atividade cerebral equivalente ao de outras crianças da mesma faixa etária. Já as que permaneceram nos orfanatos não. “No princípio da vida, há no cérebro plasticidade suficiente para que as crianças superem as experiências negativas”, diz. Claro, se estiverem em ambientes cheios de estímulo e apego.

 

Além dessas informações, a reportagem também reforça a importância do reforço positivo nos elogios, de ensinar autocontrole para as crianças, de reduzir o estresse dos pais e da criança, de brincar e, claro, do vínculo.

 

 

 

Fonte: Educar para crescer